sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Estás igual!"

Reencontro amigos e, regra geral, a observação é sempre a mesma: "não mudaste nada!". Sim, eu sou desse tipo de pessoas. Aquela menina magrinha, energética, tagarela, que chega a roçar o chata, a pulga divertida que não parava quieta... Se consultarem as fotografias da escola primária, sou das poucas que ninguém tem dificuldade em identificar.

Mas não sei bem o que isso significa. Bem sei que não é um comentário invulgar, milhares de pessoas já o devem ter ouvido a certa altura da sua vida, mas não sei porquê parece-me ter um peso que dispenso. Não pela intenção por detrás de quem comenta, mas pelo que isso significa relativamente à minha vida... Aterrada como sempre com o que posso nunca atingir, fico revoltada ao escrutinar essas palavras. No momento sorrio e acho piada, não reflito. A minha loucura não é imediata, percebem? No entanto, quando depois passa o tempo, estou a fazer algo sem importância e penso no meu dia — e atinge-me! Outra vez... Faz-me avaliar tudo, olho-me ao espelho, procuro rugas, marcas que não tinha, manchas e conto-as, o percurso do que já recolhi pelo caminho e digo: é desta que pinto o cabelo!... ;)

Também não é assim tão grave, mas ainda não consigo desprender-me da necessidade automática de rever a minha vida e avaliá-la (porque já não passo tempo suficiente a fazer isso!). Após uma certa dose de realismo e introspeção lá me consigo acalmar pela consciência dos fatos, e digo para mim própria a história do costume: estou no caminho certo, até agora ainda não me desviei muito, já tenho alguns "checks" na minha lista de objetivos a cumprir e posso agora dizer que sou totalmente independente, mesmo numa altura tão difícil como esta. Nada mau para estes 24 aninhos. Mas por que é que preciso de me relembrar disso? Qualquer dia começo a colocar post-its pela casa com momentos chave da minha vida para não desanimar. Se calhar muitas fotos também não era mau, mas não quero fazer demasiados furos na casa, é alugada! 

Vêem? sempre igual...
Conclusão, filha de mãe bipolar e de pai com dose de relaxe de uma demasia totalmente adorável e amor em termos proporcionais sinto esta dificuldade em encontrar um equilíbrio, até mesmo de emoções... Cada vez que me aproximo de estabilidade, o medo arrepia caminho por mim acima e finca-se na minha mente sem deixar qualquer espaço para retaliação... Tenho um medo profundo de chegar a um ponto morto, estacionar e perder-me dentro de mim mesma. Sinto-me sempre presa. Como se fosse prisioneira do medo, deste sentimento familiar mas tão ambíguo. Medo de avançar em demasia, de saltar em direção ao precipício sem certezas de nada, e simultaneamente este terror de nunca chegar à meta que nem eu própria sei identificar.

Traço uma linha num papel em branco e não lhe vejo fim, e fico feliz. Para mim não deveria haver um fim para nada. Não deveria haver um fim para um bom filme, um fim para uma boa música, para um bom jantar, para um bom amor, para bom sexo, para uma boa amizade. Mas será que se decidir lançar a âncora estarei já a chegar ao fim do papel? 


2 comentários:

Bárbara Sepúlveda disse...

Quando não temos esse medo, quando as nossas seguranças são mais fortes do que as inseguranças, não arrepiamos(e desta vez)caminho.

O medo é uma emoção primária e no nosso cérebro dito "primitivo". Podemos ver isto de duas persperctivas (e eu gosto mais da minha): de um ponto de vista mais racional, se pudermos falar assim, este facto pode significar que o medo se entranha e está presente porque é uma emoção a ser desvalorizada, por ser "primitiva"; podemos associar a algo de que nos devemos desprender para evoluir.


Mas eu penso que o medo nos permite a sobrevivência. É o medo que nos permite reagir, é o que nos permite resonder a um estimulo que pode colocar em risco a nossa vida. E, do meu ponto de vista de louca radical em fase de reinvenção que procura intintivamente o que fora do lugar, o medo permite-nos avançar, evoluir.


Se o medo que estagnar nunca te atingisse, estarias claramente estagnada.

Meço o grau de evolução das pessoas pelo grau de medo que atribuem a perspectivas idiossincráticas existencialistas.

Portanto, é com declarado orgulho que te digo que ter medo é bom. Reavaliar é bom. Sentir que a nossa vida precisa de um post-it para cada evento marcante é uma manifestação de procura de mais, de passos significantes, brutais e irrefutáveis de que a nossa vida foi aproveitada, foi um tempo bem passado. Acima de tudo e qualquer coisa, é sinal de uma inteligência invulgar.

É esta uma característica tua, mesmo antes tagarelice, que poderia marcar muito mais, numa primeira impressão.

Medo... Muito medo...

Unknown disse...

Esses comentários são tipicamente feitos por pessoas que pouco sabem desenvolver uma opinião...então fica mais fácil dizer "não mudas te nada :P

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