Em Portugal temos uma classe de trabalhadores muito interessante chamado o "estagiário que, apesar de tudo, ganha muito conhecimento!" Ora, isto significa, para aqueles que não conhecem a expressão, o estagiário que vai para uma empresa trabalhar de graça, à borlix, grátis, sem ganhar népia, ser explorado valentemente e sem se poder queixar, pois no final ainda estará sujeito à avaliação dessas pessoas que, no final de contas, estão a ceder muito gentilmente os seus conhecimentos a estes seres relativamente inferiores!
Não sei se por esta altura já estão a compreender a minha indignação, mas a verdade é que isto é, de facto, uma palhaçada.
Esta classe de pessoas que representamos, nós, os estagiários, estes seres humildes que por aqui andamos, sujeita-se a estas coisas porque realmente não tem outra hipótese senão começar por aqui para tentar iniciar a compreender o mundo do trabalho onde é suposto começar a trabalhar dentro de uns meses. Para quem não sabe, nós, agora falando na qualidade de licenciados, somos enfiados durante anos numas aulas estranhas, em que muitos não sabemos o que andamos a aprender, umas aulas sem sentido, de copy paste dos slides, aulas em que os próprios professores não querem estar e esperam que saiamos perfeitamente adaptados ao mundo emprearial e que percebamos toda a dinâmica da empresa onde também é suposto arranjarmos emprego um mês depois. Contudo, a realidade que se nos apresenta é uma completamente diferente e bastante assustadora, em que tudo é complicado, tudo é difícil, tudo é mais estranho, uma vez que nunca vimos o interior de um escritório. Por isso, lá vamos nós, lançados nesta odisseia de escrever cv's, cartas de apresentação, imaginar e conceber numa carta tudo aquilo que gostaríamos de fazer como profissionais, fresquinhos, cheios de ideias e acabados de sair da faculdade. E ficamos à espera que nos chamem. Até que recebemos a chamada (ou o email) e nos chamam: "Queremos que venha estagiar connosco!" E é a felicidade, o alívio, o sentido de que ultrapassamos uma etapa!
Chegados então à primeira semana, começamos a ver que nem tudo são rosas e que não vamos para ali estagiar, vamos trabalhar. E aí apercebemo-os desta nova posição social do país: somos estagiários! Somos explorados, trabalhamos temos o dever de trabalhar como mais um funcionário e naquele dia em que nos dizem "É que o facto de poder estar aqui a trabalhar é representa uma oportunidade única, uma experiência, está aqui a ganhar conhecimento. É (clarooo!!) uma sorte!" É nesse dia que a verdade se revela e que começamos a reflectir...e foi aí que me lembrei..." ai a minha alegre ceifeira"...
É neste país extremamente civilizado, em que nem os nosso pais, que cresceram em plena ditadura, alguma vez trabalharam "à experiência e de graça", onde nos impingem estas coisas, e nós, alegres ignorantes, papamo-las!!
só um pensamento.....
2 comentários:
Como eu gostava de poder escrever um post tipo este... :S
Bolonha é uma treta...Valente!:\
Paulinha, pensa assim: ficas com um conhecimento muito mais alargado do que é o mundo do trabalho (aproveita que tão cedo não tens emprego), entras em contacto com o dia-a-dia de um tradutor (aproveita que tão cedo não vais sentir isso), ficas com "calo" nisso de ser explorada (não te preocupes que mais ocasiões virão), as pessoas encaram-te como a "novinha" lá do sítio (aproveita que mais tarde vais sentir falta), em suma, é o apogeu da tua carreira :P brincadeira! ainda vamos ser grandes nisto da tradução e tu em lá o que for :P
lobiu*
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